Ensino tradicional e corpo social

As primeiras escolas  no Brasil eram  administradas por jesuítas, que viam a necessidade de um sistema de educação a fim de desenvolver um sistema de estudos. Quando foram  expulsos do país, esse antigo formato passou por  transformações, a começar pela administração educacional, agora por parte do Estado, que adotou o método francês de ensino. Este formato tradicional consiste no professor como autoridade, expondo o conhecimento,  enquanto os alunos sentados em filas ouvem e provam seu aprendizado através de provas e notas.  Essa forma de avaliação incentiva uma hierarquia sobre o bom e o mau aluno ,além de controlar o tempo que ele tem que aprender determinado assunto. Nesse sentido, perder tempo é perder produção.

Com a nova constituição de 1988, artigo 205,  a educação passa a ser direito de todos, portanto, deve ser incentivada e também servir de caminho para o mercado de trabalho mais especializado.

O sistema de ensino ainda é tradicional, entretanto, já vemos claros sinais de que alguma mudança é necessária. Afinal, mesmo que se garanta educação para todos, isso não significa que se fará com qualidade. Outrossim, que teremos um mercado de trabalho especializado com oportunidades para todos. Mesmo com iniciativas governamentais como o Enem, ainda  torna-se passível de discussão quão justo e equânime esse exame possa ser . Durkheim acreditava que a escola era um lugar onde se aprendia valores e regras,  para assim formar um indivíduo como cidadão, do adulto ao jovem, do indivíduo para o ser social. É por causa desse formato que a rede de ensino brasileira é excludente, haja vista, que as pessoas não podem  podem receber o mesmo ensino e cobrança, pois cada indivíduo vêm de realidades completamente distintas. Nesse sentido, perde-se muito ao tentar, como diz Foucault, “transformar a escola em uma gaiola”.

Outro sociólogo que  vale a pena ressaltar para esse assunto, é Bourdieu. Sua teoria sobre capital hierárquico evidencia que se continuarmos dessa maneira tradicional de instrução, iremos reafirmar desigualdades, uma vez que cada indivíduo ocupa um lugar de acordo com o capital. Logo, cada aluno que está sentado em uma cadeira seja em escola ou universidade tem o capital cultural e social diferente, e ainda assim, o tipo de avaliação é o mesmo para todos. Corroboramos as  desigualdades porque ainda estamos presos a um sistema, que mede quão bom você é baseado em um número.

Consequentemente, houve uma construção social de desempenho, formada por gerações que incutiram a importância apenas de terminar os estudos e ter um diploma.  Isso, é um sinal claro que talvez não tenhamos assimilado o principal, o que verdadeiramente é aprender. Essa marca é levada também para cursos superiores, tanto por professores quanto por alunos, através da supervalorização de notas e foco em aprovação, seja de semestre ou de ano, não significando, necessariamente,que o discente realmente esteja apto. Os estudantes também se empenham para ter boa avaliação no currículo , afinal há algo implícito ali,  não só um futuro profissional está em jogo, como também a construção da autoimagem, porque afinal de contas ninguém quer ter sua inteligência questionada.

Quando focamos no ensino de humanas e especificamente das ciências sociais, não será novidade ouvir de estudantes do ensino médio que durante a trajetória curricular, não estudaram sociólogos, antropólogos  e cientistas políticos importantíssimos para sua formação crítica  enquanto cidadão. Não só isso, às vezes tiveram aulas,  mas o método usado foi uma abordagem superficial do autor ou do livro. Ademais, muitos não chegam nas universidades preparados, pois não existe um incentivo a leitura. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Pró-livro, o brasileiro lê em média dois livros por ano; todavia, na universidade a demanda de leitura e assimilação de conteúdos com linguagem acadêmica é contrário ao vivenciado anteriormente. Além disso,muitas vezes é exigido a escrita formal e científica,que anteriormente não fora  ensinada.  Julgam que nós deveríamos ter conhecimento quanto aos temas supracitados, quando porém, muitos sequer tiveram uma aula sobre sociologia ( conteúdo)  ou metodologia científica ( as técnicas).

Sob o mesmo ponto de vista,  não há como manter esse padrão habitual, dado que a sociedade não é mais aquela industrial. Ter  informação  e conhecimento diante de nós, nos dá a responsabilidade de escolher com qualidade como melhor transmiti-lo. Existem alternativas que podem complementar o ensino tradicional, são elas conhecidas como metodologias ativas, onde o discente é estimulado a pensar, debater e ter mais iniciativa. Existem vários formatos que podem ser adaptados para a realidade desde o ensino básico ao superior. Inclusive, uma opção seria também maior divulgação e investimento em olimpíadas não só na área de exatas quanto também de humanas –  sobretudo Literatura, Filosofia e Sociologia – incentivando o estudo empírico antes da universidade. Não é que exista uma solução mágica para as questões levantadas nesse texto,mas é necessário sensibilidade e análise, para entender os impactos deste padrão que afeta e molda o corpo social. 

Autoria: Carolina Carey e Frida Rodrigues

 

Bibliografia: 

https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2020/07/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf

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