Conheça Margaret Mead,
uma das antropólogas mais influentes da história

Você já se perguntou se todas as crianças, de diferentes lugares do mundo, são criadas de forma parecida? Ou se os estereótipos de gênero existentes na sua cultura são iguais os de outras culturas? Essas foram algumas perguntas que a autora e antropóloga Margaret Mead se fez há mais de 80 anos. Nesse post iremos apresentar um pouco de sua vida e de sua contribuição para a área das ciências sociais.

Biografia

Margaret Mead nasceu em 16 de dezembro de 1901, no estado da Filadélfia, Estado Unidos. Desde cedo ela se interessou pelas questões do homem, filha de um professor universitário e de uma ativista social ela se formou em 1923 na Barnard College (NY) em antropologia. Depois de formada ela começou uma pós-graduação na Universidade de Columbia (NY), enquanto o departamento de antropologia era dirigido por Franz Boas e Ruth Benedict. 

Mead estudou, principalmente,  o desenvolvimento de teorias sobre as relações entre cultura e personalidade, a socialização de crianças, a sexualidade, os papéis diferenciais de gênero e as conexões entre cultura coletiva e personalidade individual. Em 1929 se tornou doutora pela Universidade de Columbia.

Margaret Mead foi uma grande acadêmica, seus principais trabalhos de campo foram em locais como a Polinésia, Samoa e Bali. Ela tentava aplicar à sociedade que vivia, a estadounidense, os conhecimentos antropológicos que adquiriu em sua carreira. Ela denunciou e discutiu problemas a respeito da educação, da adolescência, da sexualidade, dos papéis e condutas sociais, dos direitos da mulher e outros.

Ela foi também uma admirável oradora, deu inúmeras palestras no decorrer de sua vida com pautas que iam desde seus temas centrais de pesquisa assim como outros assuntos que eram importantes para ela, como o desarmamento nuclear, a política externa americana, saúde mental, entre outros. 

Seu primeiro casamento foi em 1923 com o arqueólogo Luther Cressman de quem se divorciou no ano de 1928, nesse mesmo ano, Mead casou-se com o antropólogo Reo Fortune, com quem realizou trabalhos de campo na Nova Zelândia e na Nova Guiné, em 1935 ela se divorciou de Reo, e se casou em 1936 com Gregory Bateson, também seu colega em um trabalho de campo, eles tiveram uma filha chamada Mary Catherine Bateson que assim como os pais também seguiu a carreira de antropóloga. O casamento de Margaret e Gregory findou-se em 1950 com um divórcio, a partir do ano de 1955 até a sua morte Mead viveu com a antropóloga Rhoda Métraux. 

Contribuição para os estudos de gênero e comportamento

Com apenas 23 anos, Mead escreve o controverso livro que a fez famosa: “Coming of age in Samoa:  A Psychological Study of Primitive Youth for Western Civilisation ”(1928). Para escrever seu livro Mead realiza sua primeira viagem de trabalho de campo para uma  remota ilha do mar do sul, a Ilha de Tau,  estudar a vida e comportamento dos samoanos, interessada em como a adolescência, conhecida geralmente  como uma difícil fase de transição e de muitas crises, se mostrava  para os jovens de lá, especialmente para as mulheres. “Tentei responder à pergunta que me enviou a Samoa: os distúrbios que incomodam nossos adolescentes são devidos à própria natureza da adolescência ou à civilização? Em diferentes condições a adolescência apresenta um quadro diferente?” Ao longo de seus cinco meses de convivência com os samoanos, Mead percebeu que a adolescência em Samoa é um período de experimentação antes do casamento, de alegria e prazer. Essa liberdade é encorajada e até esperada de todos os jovens, se mantendo na vida adulta. 

No final do seu livro, ela conclui que o comportamento dos samoanos pode ser explicado apenas em termos outros que não biológicos, assim, alegando que o meio ambiente ou a criação são muito importantes. Essa conclusão, que o comportamento adolescente é culturalmente determinado, gera grande impacto na antropologia.  Apesar das críticas que sofreu, o livro foi um grande expoente para a escola culturalista norte-americana.

Anos depois, foi publicado o trabalho de Mead que a consolidou como antropóloga e escritora de sucesso: Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas (1935). Fruto do seu trabalho de campo na Papua- Nova Guiné, acompanhada do seu marido Reo Fortune, a antropóloga, em uma observação comparativa, pontua as diferenças dos padrões comportamentais e a distinção dos papéis atribuídos aos homens e as mulheres entre três povos da região: os Arapesh, os Mundugumor e os Tichambuli. Mead constata que a diferença de temperamento (características psicológicas) entre os homens e as mulheres não são inatos ao sexo biológico, ou seja, os padrões comportamentais diferentes entre homens e mulheres são construções culturais apreendidas socialmente. Com isso, a antropóloga se consolida como pioneira nos estudos de gênero, abrindo portas para as análises feministas futuras.

Nas observações entre os três povos, Mead descreve quais os comportamentos esperados socialmente. A autora descreve que os Arapesh seriam uma sociedade em que homens e mulheres mostravam-se gentis não regressivos, cooperativos e atentos às necessidades alheias. Embora pudessem ocorrer conflitos, não eram guerreiros ou vingativos e eram um povo em que homens e mulheres apresentavam temperamentos semelhantes, inclusive no que dizia respeito aos cuidados com os filhos. Esse ponto em especial chama atenção de Mead, pois nos EUA as crianças eram consideradas uma incumbência das mulheres, diferentemente do que observava nos Arapesh, onde essa responsabilidade também era dos homens. Os Mundugumor foram descritos como um povo violento, implacável e agressivo. Do mesmo modo que nos Arapesh, os comportamentos não se diferiam muito em razão do sexo: homens e mulheres assumiam atitudes hostis. 

Por fim, ela descreve os Tchambuli como um grupo onde, diferentemente dos anteriores, as atitudes femininas e masculinas mostravam-se bastantes distintas, tendo as mulheres um protagonismo evidente: elas eram dotadas de poder dentro das aldeias; eram as principais fornecedoras de alimentos e as responsáveis pela pesca, por negociar o excedente em troca de outros víveres e pela produção da riqueza. Os homens, por sua vez, dedicavam-se à arte e à estética. Tal padrão chama a atenção de Mead por ser o inverso do comportamento tradicionalmente atribuído aos sexos na sociedade estadunidense e ocidental como um todo. 

Mead também se detém sobre os “inadaptados” em cada um dos povos. Ela dedica um capítulo inteiro sobre isso, onde vai dizer que os inadaptados seriam aqueles que não se conformariam aos papéis sociais impostos, não atendendo ao temperamento socialmente determinado. Incapazes de se adequarem à perspectiva social exigida por sua cultura, eles apresentavam atitudes “indesejáveis”. Entre os Arapesh isso era representado por pessoas agressivas, eventualmente obrigadas a deixar a aldeia por um tempo. Entre os Mundugumor eram os indivíduos excessivamente gentis e cooperativos. Nos Tchambuli seriam aqueles que não possuíam afinidade com o comportamento visto como natural para o seu sexo, aproximando-se das atitudes e temperamentos do sexo oposto.

Outros trabalhos 

A influência de Margaret Mead também está relacionada a inovação que ela e Gregory Bateson, trouxeram para o campo da antropologia visual através da obra “Balinese Character – A photographic analysis” (1942) fruto de um trabalho de campo feito pelos dois pesquisadores na ilha de Bali, especialmente na aldeia Bajoeng Gedê durante os anos de 1936 a 1939. A obra é um marco na antropologia pois trouxe a fotografia como um instrumento metodológico para realização da etnografia, realizando um diálogo importante com os registros escritos e visuais sobre aquela cultura. 

Margaret teve uma atuação profissional longa e importante no Museu de História Natural de Nova York, trabalhando como curadora na Divisão de Antropologia de 1926 até a sua morte. Atualmente, existe no museu um salão que leva o seu nome como forma de homenagem, nele são expostos mais de 3.000 objetos coletados por Margaret em seus trabalhos de campo. 

Devido à ênfase concedida à variabilidade de relações afetivas nas sociedades humanas, seus trabalhos foram recuperados por militantes de movimentos pelos direitos de homossexuais e Mead teve o seu nome incluído entre os verbetes da Encyclopaedia of Gay, Lesbian, Bisexual, Transgender and Queer Culture (2003).

Morte 

Em 1978, aos 76 anos, Margaret Mead faleceu na cidade de Nova York devido à complicações de um câncer de pâncreas e foi enterrada no estado da Pennsylvania. Mesmo tantos anos depois, a autora continua presente na formação de muitos antropólogos e cientistas sociais, confirmando a sua notável contribuição para área.

Ao escrever sobre a vida de Mead, seu colega e influente antropólogo Clifford Geertz disse:
“Tentar falar de Margaret Mead sendo alguém que a conhecia intimamente, ou pelo menos ao vivo em cores, em algumas páginas, dotadas de consideração e profissionalismo, é como tentar escrever a bíblia, ou até mesmo a odisseia em uma cabeça de alfinete. Ela não se encaixa na maioria das categorias  e zomba das outras.” (GEERTZ, A biographical memoir, p. 339).

 

Texto escrito por Amanda Figueiredo, Gabriella Raynne Cipriano, Júlia Pimenta, Maria Paula Guimarães, Raquel Magalhães e Vivian Lins.

 

Bibliografia

MEAD, Margaret. Sex and temperament in three primitive societies, New York, William Morrow and c. 1935 (Trad. Bras. Rosa R. Krausz. São Paulo,  Perspectiva, 2000)

INSTITUTE FOR INTERCULTURAL STUDIES, Margaret Mead (1901-1978)

An Anthropology of Human Freedom, Disponível em : <http://www.interculturalstudies.org/Mead/biography.html> /Acessado em 30/09/2020

GEERTZ, Clifford, Margaret Mead (1901—1978): A biographical memoir, National Academy of Sciences, 1989. Disponível em: <http://www.nasonline.org/publications/biographical-memoirs/memoir-pdfs/mead-margaret.pdf> /Acessado em 30/09/2020

FELIPPE, Mariana Boujikian & OLIVEIRA-MACEDO, Shisleni de. 2018. “Margareth Mead”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: <http://ea.fflch.usp.br/autor/margaret-mead> /Acessado em 30/09/2020

FELIPPE, Mariana Boujikian & OLIVEIRA-MACEDO, Shisleni de. 2018. “Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: <http://ea.fflch.usp.br/obra/sexo-e-temperamento-em-tr%C3%AAs-sociedades-primitivas> /Acessado em: 06/10/2020

Margaret Mead and Samoa.  Direção: Frank Heimans. Cremorne, NSW : Cinetel Productions, [1988]

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