Howard S. Becker: Uma breve Introdução
Howard S. Becker, nascido em Chicago em 1928, é considerado por alguns estudiosos como representante de uma segunda Escola de Chicago, junto com Erving Goffman e Anselm Strauss. Simultaneamente aos seus estudos universitários, Becker trabalhava principalmente como pianista profissional de jazz, tocando em bares e casas de strip, em entrevistas, o sociólogo já afirmou que considerava seus estudos um hobby enquanto a música era o que ele realmente gostava.
Após receber seu doutorado com apenas 23 anos de idade, sua trajetória seguiu no meio acadêmico, onde passou três anos como instrutor de sociologia da Universidade de Chicago, se tornou professor na Universidade de Northwestern por quase 30 anos e passou algum tempo como professor visitante em universidades em Manchester e no Rio de Janeiro, por exemplo. Durante sua vida, recebeu diversos prêmios e honrarias, como a Bolsa Guggenheim.
Howard Becker se aposentou em 1999 da Universidade de Washington e atualmente mora em São Francisco, despendendo algum tempo na Europa e, apesar de não ensinar mais, o autor continua escrevendo livros e músicas.
Becker ficou conhecido fundamentalmente por compor a segunda geração da Escola de Chicago, um movimento literário-científico surgido no fim do século XIX e início do século XX na Universidade de Chicago. Seus pesquisadores, membros do Departamento de Sociologia e Antropologia, apresentavam estudos ligados à urbanização, uma vez que este fenômeno mudara radicalmente a dinâmica social das grandes metrópoles em emergência. Há quem atribua a ele o cargo de interacionista simbólico, mas o próprio não se alinha a esse espectro.
Suas principais obras foram Outsiders (1963), Mundos da Arte (1928) e What About Mozart? What About Murder? (2015). Suas três grandes áreas de influência no campo da sociologia são nas teorias da sociologia do desvio e do etiquetamento social, na sociologia da arte e em suas contribuições de metodologias de pesquisa e de métodos de escrita acadêmica. Destacou-se pelo livro Outsiders, onde fez uma pesquisa participativa e desenvolveu sua teoria do desvio.
Lançado em 1963, Outsiders se mostra como uma seleção de artigos e textos publicados nos anos 1950. As discussões trazidas pelo autor através de diferentes perspectivas e situações, originam e cunham o termo outsider, usado para denominar o sujeito que foge às regras morais e materiais estabelecidas socialmente pela maioria. Sendo assim, constrói seu argumento apontando como é a sociedade a criadora do desvio e, consequentemente, dos outsiders a partir de sua rotulação como tal, e não o contrário. O ponto mais singular da produção de Becker, são os capítulos em que ele disserta sua teorização a partir de dois casos empíricos, o dos músicos de jazz e fumantes de maconha, apontando como eles interagem no interior das instituições sociais. Além disso, é interessante destacar sua argumentação de que o desviante também pode ver aqueles que o julgam como outsider por não acreditar na legitimidade de seus princípios. Outra noção importante desenvolvida, é a ideia de carreira, que se trata de que apenas uma ação não é suficiente para explicar o comportamento desviante de um outsider. O que acontece na verdade, como em uma carreira profissional, é que há várias etapas e estágios até que o ator atinja a posição socialmente imposta a ele, premissa que ajuda a compreender como a prática se fixa.
Uma das importantes contribuições do seu trabalho é com a forma como ele transfere o foco analítico de suas pesquisas para longe de indivíduos e estruturas sociais, permitindo que a ação da coletividade seja vista, entendida e alterada durante a produção do desvio. O impacto de sua produção é tamanho que ainda hoje serve de base para estudiosos criminologistas e sociólogos do campo. Em suas discussões sobre sociologia da arte, Becker mudou a conversa sobre artistas individuais para um campo de relações sociais em que a produção, distribuição e validação da arte são possíveis. Além disso, o sociólogo também é um grande defensor da escrita acadêmica de forma a ser mais legível e entendível para o público comum como fator importante para aumentar a disseminação de resultados de pesquisas sociológicas.
Escrito por Sofia B. de Oliveira e Vitória Moura e Sousa
Bibliografia:
https://www.thoughtco.com/howard-becker-3026481
Becker, Howard S. 2008 [1963]. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar.
https://howardsbecker.com/